sábado, 25 de dezembro de 2010

O caminho da paz interior
Sheakespeare escreveu que “nós somos feitos da mesma matéria dos sonhos”.  E dos sonhos, das utopias que movem a humanidade, haverá desejo maior que a Paz? Todas as religiões e povos a buscam e cada coração humano almeja em seu âmago repousar.
De pouco precisaríamos se houvesse Paz na Terra –um sonho onde
nos olharíamos com um sorriso na face, as janelas das casas estariam sempre abertas e as portas apenas encostadas. Cuidaríamos dos filhos alheios e os nossos – onde estivessem – teriam um lar. Teríamos liberdade de cantar pelas ruas porque a alegria contagiaria até os tristonhos e carrancudos.
 Haveria respeito. As famílias existiriam pelas pessoas e não pela obrigação do parentesco. Os casais existiriam até o fim das paixões e depois, juntos ou não,  seriam ‘gente’,amigos para sempre em louvor do amor que os uniu. As crianças – oh! sonho meu!! – seriam concebidas como filhos desejados, frutos do amor de um pai e de uma mãe, seriam amadas e cuidadas em seus berços e brincariam frente às casas sob o olhar calmo dos avós. Todas iriam à escola para aprender a realizar seu potencial e seus mestres seriam pessoas de boa vontade que os amariam só por serem crianças.  

O filho se calaria frente ao conselho do pai porque nele confiaria cegamente. O pai sempre teria tempo e cuidado para apoiar o crescimento do filho como quem usa uma guia que sustenta o talo da planta. O jovem veria no velho o seu futuro digno e sábio e, com deferência cederia seu lugar nos ônibus e o ampararia nos obstáculos. Os velhos se encarregariam de cuidar da alma das crianças mostrando e contando sobre as maravilhas do mundo.

 O trabalho seria uma condição humana.  Os contratos seriam honrados muito mais pelas palavras empenhadas que pelos carimbos e penalidades. Os salários seriam justos, não ditados pelos direitos adquiridos, mas pela competência, pelo esforço e capacidade de cada trabalhador. Os ricos nem tanto teriam e os pobres, da miséria nem saberiam. 

Os jovens poderiam ser autênticos, teriam liberdade de treinar os passos e experimentar os caminhos da responsabilidade e das solicitações da vida adulta, confiantes nas oportunidades não teriam medo de crescer e fracassar _ ao invés de gangs se conheceriam em tribos do bem e se divertiriam em clubes da esquina.  Os adultos seriam mais que pessoas crescidas, teriam se formado solidamente e poderiam, sem tanto esforço e competição, responder pela estrutura social. 

Os carros seriam meios de transporte para o trabalho, para a escola, para o lazer e não símbolos de poder e status.  E circulariam cheios de gente pelas ruas, cada motorista levaria seus parentes, seus vizinhos, sem se importar com quilômetros ou minutos a mais de seu tempo. Assim seria muito mais limpo o ar da minha cidade. 

O tempo seria mais usado em conversas frente a frente que virtuais ou via celulares.  As casas seriam lares onde o importante seriam as pessoas e não a tecnologia, a mídia ou os tapetes.  Todos os dias as cozinhas seriam perfumadas de canela, alho, cebola e ervas. Os alimentos seriam frescos, as digestões suaves e muito menos lixo haveria que tirar. A televisão informaria e divertiria – no meu sonho de paz não haveria crimes, favelas, drogas e violência a noticiar.

 Desde pequenos aprenderíamos a vivenciar o vazio do “não – ser” como uma qualidade da alma humana com seus matizes de cinzas de melancolias, tristezas, medos e frustrações e não haveria a necessidade de turvar a mente com substâncias alienantes – lícitas ou proibidas - em busca de distanciamentos ou arrebatamentos: o fluxo da criatividade seria o deslumbramento maior. 

A arte seria mais importante que o sucesso porque dela vem uma alegria mais profunda. A liberdade seria uma condição e não uma musa sedutora. A diversão seria plena, dos sentidos, da razão e do espírito e por isso seria digna e nunca ofensiva. Haveria tolerância, nenhum preconceito, disponibilidade, acolhimento e compaixão. Quando um não entendesse a razão do outro se colocaria em seu lugar – aprender empatia seria matéria obrigatória. Todas as raças, culturas e costumes seriam estudados e conhecidos pelas crianças que aprenderiam sobre a beleza e a importância da diversidade. A natureza não estaria lá fora, mas dentro do coração e nem gente nem bicho viveria atrás de grades sem ter cometido crime algum..................

Assim é meu sonho de paz. Mas, se ainda não posso ter este mundo sonhado, pelo menos posso fazer um pouquinho a cada dia, passos cuidadosos no caminho de minha paz interior. Rever conceitos e perceber se sementes de preconceitos possam estar brotando. Praticar atentamente a empatia, olhar fundo nos olhos de meu próximo, evitar a palavra amarga, treinar a paciência, cultivar a compaixão.
Escolher as minhas compras, não me deixar levar levianamente ao consumismo patético de coisas que não preciso coisas que viram lixo, que não têm sentido... Refletir sobre o poder da embalagem e dominar as ânsias para ter o falso belo.
Exercer meus direitos de cidadania, mas também abraçar minhas responsabilidades de cidadã. Fazer conhecer minhas idéias de melhoria no meu prédio, na minha rua, no meu bairro, na minha cidade e por que não, no meu país? Se puder escolher o carro que uso, que critérios sigo? Luxo, beleza, potência, ecologia? Saber das minhas intenções e arcar com as conseqüências das minhas decisões. 

O que alimenta minha alma me faz confiar ou desconfiar das pessoas? Cultivo com afinco, medos, frustrações, saudosismos, indiferença, ironias, egoísmo? Como mudar este cardápio? A quem tenho como modelo de pessoa desconhecida? O corrupto, o bandido, o mentiroso, o violento, o ladrão, o cínico? A violência gratuita e sem nexo?   Aceito trocar estes padrões que vendem notícia para acreditar no jovem talentoso, na mulher caridosa, no médico humanitário, no engenheiro consciente, no pai amoroso, na mãe atenciosa, no gari cuidadoso, no carteiro alegre, no funcionário solícito, no político honesto (eu sei que é raro, mas ele existe), na vizinha prestativa, nos milhares de motoristas responsáveis, no cidadão voluntário, no rico benfeitor, no pobre trabalhador, no professor digno, no homem comum e de bem? 
É claro que tenho que trancar a porta e gradear a janela, guardar a bolsa e estar atenta – assim exige o tempo em que vivo, mas se eu abrir a minha alma para a liberdade posso escolher olhar longe através das grades, posso confiar no dia de hoje, posso optar por não dar tanta importância ao poder do mal (e com isso alimentá-lo e fortalecê-lo) e acreditar mais e mais na força do bem. Conduzir minha energia para construir a paz ao meu redor, meditar para limpar da mente o que me dá medo, rir e cantar para alegrar meu coração. Ajudar sempre, calar às vezes, contribuir com o que puder. Viver e deixar viver – e, se paz é meu sonho, quero fazer destes os caminhos da paz da minha alma!
Ah! E sempre ter a oração como refúgio:
 orar costuma fazer bem
o coração de quem se entrega à oração
tem mil histórias prá contar”
Namastê
Ana


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