terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Noite de Natal


















Noite de Natal

Ajoelho-me frente ao presépio como já fiz em tantos Natais que perdi a conta. Sou cristã e esta cena tão singela é minha memória mais antiga de religião. Na minha infância Papai Noel era apenas uma expectativa, mas o Menino Jesus, Maria, José, o Anjo, a estrela, eram uma certeza, uma confiança que entrou em minha alma de criança com um poder que muito depois descobri ser fé.  Mais que uma tradição, em todo início de dezembro, desembrulhar as peças do papel de seda, construir o cenário na sala de visitas, reconhecer o Advento e aguardar a Santa Noite, e, depois do dia de Reis, desmanchar todo o encanto festivo, me fez, em criança, aprender sobre os ciclos, sobre tempo, sobre renovação e sobre esperança. 

Na minha lógica infantil, se O matavam na Sexta feira Santa e Ele ressuscitava na Páscoa, eu podia confiar que no Natal Ele renasceria nos presépios das casas e igrejas da minha cidade – isto era tudo que então me importava: eu sabia que desde sempre Ele era um menino e assim para sempre continuaria a ser. Um Menino que conhecia o mundo da terra e o mundo do céu; alguém muito mais perto de mim que o incompreensível Deus criador do céu e da terra que me faziam temer.  Acostumei-me a pedir-lhe conforto nas inquietações, força nos obstáculos, coragem para meus desafios, proteção para os medos que me atacavam.  O Menino, sua Mãe e seu Pai, fizeram parte do meu inconsciente e embasearam a minha consciência religiosa.  

Pela vida e pelos natais fui e voltei. Sorri e chorei. Às vezes a festa foi rica e a casa cheia de gente, noutras a mesa foi frugal e a noite solitária. Nestes anos todos montei presépios – às vezes em balbúrdia, ajudada por mãozinhas desastradas e olhinhos brilhantes das crianças que vieram, e também em silêncios dolorosos quando ao meu lado estavam as mãos trêmulas e olhos embaçados e úmidos dos velhos que se foram.  
 
De todos os presépios guardo respeito e veneração. E frente a este, neste momento, rodeada pelas pessoas amigas e amadas, ouso fazer uma prece, um pedido de Natal a este eterno Menino Jesus:

Eu quero um coração sereno e forte – porque há quem precise de apoio e conforto;
Eu quero um coração meigo e suave – que me faça acalentar crianças, bichos e pessoas;
Eu quero um coração corajoso – que me leve a enfrentar o que me cabe viver;
Eu quero um coração com mais fé que razão – porque há coisas que nunca compreenderei;
Eu quero um coração amoroso – para aceitar as coisas que não compreendo;
Eu quero um coração luminoso – porque as trevas nos rondam;
Eu quero um coração pacífico – que me afaste das pessoas violentas;
Eu quero um coração compassivo – que seja antídoto para minha intolerância;
Eu quero um coração humilde – porque há tanto que aprender a cada novo dia;
Eu quero um coração inquieto – para que eu não me acomode e possa mudar sempre;
Eu quero um coração alegre – porque às vezes a vida me faz muito triste;
Eu quero um coração grande e feliz – para abraçar todo mundo e assim poder dizer:   
FELIZ NATAL!
(Ana Lara – dez 2010)
Namastê

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