quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A serenidade dos anos que passam


A época do aniversário é marcada por muitos abraços, mensagens de carinho, sorrisos, visitas _ feliz daquele que tem amigos para compartilhar e celebrar os momentos da vida. Fazer dezoito é a glória completa, mas e sessenta?! Bom, aí depende.

Eu, graças a Deus,cheguei aqui muito bem, obrigada. Se comparar com uns (e as pessoas têm mania de comparar) meu caminho foi muito fácil; se comparar com outros, foi bem difícil. Vivo igual aos meus iguais. Se pudesse viver novamente – como pensou o poeta – faria algumas coisas do mesmo jeito, outras absolutamente diferentes: talvez, quem sabe, pensasse menos e corresse mais pelos campos e pelas praias? O que eu sei agora é que não poderia, nunca, trair a minha essência – e quantas vezes teimei assim em fazer em meus anos de juventude!
 
O tempo é um rio por onde seguem as correntes da vida. E nele navegamos ao sabor dos acontecimentos.  O imprevisível nos espreita a cada curva e, por mais que tentemos, não temos como nos preparar para antever o que virá porque toda nossa capacidade está enredada na realidade e ela está acontecendo simultânea, quer dizer, agora e só neste momento. Se eu me descuido do ‘aqui’ para pensar no ‘logo ali’, inevitavelmente, perco o momento. Ah! Quantos neurônios eu queimei desnecessariamente _ aos vinte, aos trinta, aos quarenta _ querendo estar lá no futuro para garantir segurança. 

Quem navega sabe que não pode ter um pé em cada barco _ são os dois no mesmo barco e gingando o corpo para não perder o equilíbrio. Um valioso segredo é aprender que "não sou eu que me navego, quem me navega é o mar"!

Fazer sessenta anos é se aproximar da velhice – no senso comum, ou seja, na moda atual, esta é uma questão tabu, tanto assim que se criaram novos termos para caracterizar esta fase: ‘terceira idade’, ‘melhor idade’, ‘idade de ouro’, ‘envelhescência’, e por ai. Bom para garantir alguns direitos duramente conquistados (afinal trabalhamos muito tempo e já pagamos muito impostos por eles). Ruim, quando a mesma moda quer nos fazer acreditar que estamos à margem ‘do mundo’ se não consumirmos o que a sociedade determina impondo um ‘modus vivendi’ que, muitas vezes, fere a dignidade das pessoas que engordaram, que têm nos pés e nos joelhos o peso dos anos, nas faces as marcas do que viveram. Com o passar dos anos a gente entende porque beleza, verdadeira, é interior. A pele seca, mas a alma pode ser sempre fresca.  

É inerente ao ser humano a capacidade de paz interior e sabedoria – é o que o bebê expressa quando se aconchega no colo amoroso e repousa (ele “sabe”, portanto, confia). Não perdemos esta capacidade, apenas nos esquecemos depraticá-la. E é o esquecer desta graça que traz tristeza ao envelhecer.  
Todos os acontecimentos e experiências são como atribuições e testes pelos quais vamos aprendendo o que é a vida. 
O envelhecimento é o cadinho onde vamos refinar o desenrolar dos eventos da vida como significativos para um propósito maior. É agora que conseguimos entender o ‘quê’, ‘o como’ e o ‘porque’ das coisas vividas. E desta compreensão vem a sabedoria _ com ela cessam os discursos, por isso os velhos se calam; com ela diminui a procura, por isso eles não precisam ir tão longe; os conceitos, idéias e opiniões já pouco valem quando se aprendeu  que o que  realmente importa é o amor e o afeto: por isso os velhos não brigam. Um velho livro, bem  cuidado e preservado é um tesouro porque guarda a sabedoria de outros tempos. 

É por isso que eu peço: Senhor, conceda-me a graça de envelhecer tornando mais puro o que me vier às mãos!
Namastê

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